Ana Lívia Mourão passou seis meses afastada das salas de aula enquanto passava pelo tratamento contra um tumor no útero. Professora retorna à sala da aula após seis meses afastada devido um câncer
A professora de geografia Ana Lívia Mourão, de 37 anos, foi surpreendida com uma série de homenagens ao retornar para o trabalho depois de seis meses afastada devido a um câncer. Docente há quase nove anos no Colégio Ari de Sá, em Fortaleza, ela descobriu um tumor no útero em 2024 e contou com o apoio dos colegas e alunos durante o tratamento.
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A primeira surpresa aconteceu em 8 de fevereiro durante uma reunião para professores. A professora foi recebida com uma faixa que dizia: “Lívia, seja bem-vinda!”. Nesse instante, o corpo docente se uniu em um coro de “Parabéns pra você”, celebrando não apenas sua chegada, mas o início de uma nova etapa em sua vida.
Lívia estava afastada das salas de aula desde agosto do ano passado, quando recebeu o diagnóstico de câncer no útero. Após meses de tratamento, o tumor desapareceu, e a professora pôde retornar à sala de aula na última sexta-feira (14), quando foi recebida com mais homenagens.
“Quando voltei, fui recebida com tapete vermelho, aplausos e a música ‘Anunciação’, que marcou todo o meu tratamento, porque eu sempre fiquei enfatizando que a cura estava chegando. Eles cantaram, eu chorei e todo mundo me abraçou. Toquei o sino lá de novo, como uma forma de dizer que eu tô viva, que voltei”, conta.
Veja o momento:
Professores celebram retorno de colega após remissão do câncer
Diagnóstico
Em meio ao ritmo acelerado da vida cotidiana, Lívia passou por um check-up de rotina durante as férias do meio de 2024, sem apresentar sintomas evidentes, exceto por uma sensação intensa de cansaço. Para ela, o sintoma estava relacionado ao desgaste do dia a dia, sem imaginar que poderia ser um sinal de algo mais sério.
Ao investigar as causas dessa fadiga, os médicos começaram a realizar uma série de exames. O diagnóstico inicialmente parecia ser relacionado à psoríase, mas a investigação avançou quando, durante o check-up ginecológico, a médica encontrou um cisto de endometriose no ovário.
O quadro gerou preocupação para Lívia, mas o que veio a seguir foi ainda mais inesperado. No final de julho, a professora passou por um procedimento para colocar um DIU. No entanto, o médico encontrou um tumor de cinco centímetros no colo do útero da paciente.
Professora é homenageada ao retornar para escola após se curar de câncer
Arquivo pessoal
Inicialmente, o médico não informou a descoberta para Lívia, pois não era o profissional responsável pelo acompanhamento da professora, mas disse que o DIU não pôde ser inserido devido à lesão detectada. Em seguida, ele chamou a irmã da paciente, Carla Mourão, informou sobre o tumor e enviou o material para biópsia.
A notícia, mesmo incompleta, foi o suficiente para abalar a professora. “Naquele momento o chão já foi se abrindo. Uma coisa é ter uma ferida no colo do útero, outra coisa é ouvir a palavra ‘lesão'”, relembra.
O dia 1º de agosto de 2024 marcou profundamente a vida de Lívia. Depois de ministrar as primeiras aulas após o retorno das férias, ela chegou em casa e encontrou a irmã e o marido, Eric Veras, à sua espera. Foi nesse momento que a professora teve a confirmação de que estava com câncer. “Chorei muito, dizendo que não queria morrer”, conta Lívia, que guardava a lembrança de uma tia que faleceu devido ao câncer de útero há cerca de vinte anos.
Tratamento
Pouco mais de um mês após o diagnóstico, Lívia começou o tratamento, que parecia promissor e tinha previsão para durar até outubro do mesmo ano. Ela foi acompanhada no ICC (Instituto do Câncer de Coração), onde se sentiu acolhida.
“Por incrível que pareça, mesmo no meio da doença, me senti em casa, porque os profissionais são muito maravilhosos. Eu fui muito amparada”, ressalta.
No entanto, perto de concluir o tratamento inicial, um novo exame imunistoquímico revelou que o tipo de câncer era raro e geralmente acometia os pulmões, o que levou os médicos a reconsiderarem a abordagem. O oncologista informou a Ana Lívia que seria necessário um tratamento mais agressivo e que o protocolo seria alterado. Em uma semana, ela iniciou um novo ciclo de quimioterapia.
Desde o início do tratamento, Ana Lívia experimentou diversas reações adversas à quimioterapia, mas a situação piorou após a alteração do protocolo. Uma semana depois, ela começou a apresentar febres persistentes, o que a levou a ser internada.
“Quando os meus exames saíram, eu não tinha nenhuma célula de proteção no corpo. Eu tinha 88 leucócitos”, revelou. O quadro exigiu uma internação urgente, onde passou dez dias em isolamento.
“Todo mundo que entrava no quarto tinha que estar paramentado, ninguém podia encostar em mim, só com luva. Foi a pior fase tratamento, porque eu não podia pegar uma gripe. Se eu pegasse uma gripe, eu podia morrer”.
O tratamento foi marcado por desafios, mas finalmente chegou ao fim em novembro, após a equipe médica constatar que o tumor havia desaparecido. Os cuidados continuaram por mais alguns meses, assim como os exames, até que em fevereiro de 2025 a professora foi liberada para retornar, aos poucos, às salas de aula.
Lívia celebra remissão do câncer e início de uma nova vida
Arquivo pessoal
Saúde emocional
Quando Lívia recebeu o diagnóstico de câncer, sua irmã imediatamente tomou providências para apoiá-la em todos os aspectos do tratamento, incluindo o cuidado com a saúde emocional. Carla, a irmã, entrou em contato com a psicóloga da professora e, no mesmo dia em que soube do diagnóstico, Lívia já tinha uma sessão de terapia marcada, algo que se tornaria uma peça fundamental na sua recuperação.
Há cinco anos, ela faz terapia regularmente, o que se tornou ainda mais crucial durante o tratamento. “A terapia foi uma peça fundamental durante o tratamento para eu poder enfrentar. Primeiro, para eu poder aceitar. Segundo, para eu enfrentar tudo”, relatou.
Na consulta, a psicóloga recebeu a paciente com um abraço e um bolo de chocolate. “Ela me disse: ‘bota para fora tudo, suas raivas, seus anseios, seus medos’. Falei tudo. E aí a gente chegou no ‘x’ da questão, que eu só tinha uma opção: ficar boa. E aí, a partir daquele momento, eu internalizei isso, eu tinha que ficar boa”, relembra.
Apoio dos alunos e professores
Durante o tratamento, Lívia foi afastada da escola por recomendação médica, a fim de evitar que ela contraísse alguma virose que pudesse comprometer sua saúde. Além dos desafios físicos e emocionais que a doença trouxe, ela e sua família também enfrentaram dificuldades financeiras devido aos altos custos com medicamentos e locomoção, e no período o INSS ainda não havia liberado o auxílio-doença.
Foi então que a solidariedade de seus colegas de trabalho e alunos fez toda a diferença. Aline e Daniel, dois colegas de profissão, tomaram a iniciativa de organizar uma rifa para ajudar Lívia financeiramente.
“A história se espalhou para os pais, para meus alunos, para outros professores de outras sedes. E aí todo mundo se juntou para poder me ajudar. Mandavam mensagens dizendo que não queriam o prêmio caso ganhassem, que era uma forma de tá me ajudando, de tá presente comigo”, relata
Além do apoio financeiro, Ana Lívia também recebeu uma onda de carinho. “Recebi muitas orações de gente que eu nem conheço”, relembra. As mensagens de apoio eram constantes, com colegas se oferecendo para acompanhá-la aos hospitais, preparar presentes ou até mesmo enviar cartinhas.
“Foi um movimento muito bonito que meus colegas, minhas coordenadoras e meus alunos fizeram. Na véspera da minha internação, recebi uma verdadeira ‘carreta de amor’ com muitas cartinhas e presentes. Se não fosse por tudo isso, eu não teria aguentado a internação”, refletiu.
Professora recebeu diversas cartas e mensagens dos colegas de trabalho
Arquivo pessoal
O que eu mais quero agora é viver. Eu acho que a gente se apega a muitas coisas que não fazem sentido e depois de tudo eu passei a dar mais sentido para as coisas pequenas. Estou vivendo as primeiras vezes de novo, e a vida é marcada por primeiras vezes, que podem também ser as últimas vezes. Então, eu tenho tentado aproveitar tudo ao máximo.
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A professora de geografia Ana Lívia Mourão, de 37 anos, foi surpreendida com uma série de homenagens ao retornar para o trabalho depois de seis meses afastada devido a um câncer. Docente há quase nove anos no Colégio Ari de Sá, em Fortaleza, ela descobriu um tumor no útero em 2024 e contou com o apoio dos colegas e alunos durante o tratamento.
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A primeira surpresa aconteceu em 8 de fevereiro durante uma reunião para professores. A professora foi recebida com uma faixa que dizia: “Lívia, seja bem-vinda!”. Nesse instante, o corpo docente se uniu em um coro de “Parabéns pra você”, celebrando não apenas sua chegada, mas o início de uma nova etapa em sua vida.
Lívia estava afastada das salas de aula desde agosto do ano passado, quando recebeu o diagnóstico de câncer no útero. Após meses de tratamento, o tumor desapareceu, e a professora pôde retornar à sala de aula na última sexta-feira (14), quando foi recebida com mais homenagens.
“Quando voltei, fui recebida com tapete vermelho, aplausos e a música ‘Anunciação’, que marcou todo o meu tratamento, porque eu sempre fiquei enfatizando que a cura estava chegando. Eles cantaram, eu chorei e todo mundo me abraçou. Toquei o sino lá de novo, como uma forma de dizer que eu tô viva, que voltei”, conta.
Veja o momento:
Professores celebram retorno de colega após remissão do câncer
Diagnóstico
Em meio ao ritmo acelerado da vida cotidiana, Lívia passou por um check-up de rotina durante as férias do meio de 2024, sem apresentar sintomas evidentes, exceto por uma sensação intensa de cansaço. Para ela, o sintoma estava relacionado ao desgaste do dia a dia, sem imaginar que poderia ser um sinal de algo mais sério.
Ao investigar as causas dessa fadiga, os médicos começaram a realizar uma série de exames. O diagnóstico inicialmente parecia ser relacionado à psoríase, mas a investigação avançou quando, durante o check-up ginecológico, a médica encontrou um cisto de endometriose no ovário.
O quadro gerou preocupação para Lívia, mas o que veio a seguir foi ainda mais inesperado. No final de julho, a professora passou por um procedimento para colocar um DIU. No entanto, o médico encontrou um tumor de cinco centímetros no colo do útero da paciente.
Professora é homenageada ao retornar para escola após se curar de câncer
Arquivo pessoal
Inicialmente, o médico não informou a descoberta para Lívia, pois não era o profissional responsável pelo acompanhamento da professora, mas disse que o DIU não pôde ser inserido devido à lesão detectada. Em seguida, ele chamou a irmã da paciente, Carla Mourão, informou sobre o tumor e enviou o material para biópsia.
A notícia, mesmo incompleta, foi o suficiente para abalar a professora. “Naquele momento o chão já foi se abrindo. Uma coisa é ter uma ferida no colo do útero, outra coisa é ouvir a palavra ‘lesão'”, relembra.
O dia 1º de agosto de 2024 marcou profundamente a vida de Lívia. Depois de ministrar as primeiras aulas após o retorno das férias, ela chegou em casa e encontrou a irmã e o marido, Eric Veras, à sua espera. Foi nesse momento que a professora teve a confirmação de que estava com câncer. “Chorei muito, dizendo que não queria morrer”, conta Lívia, que guardava a lembrança de uma tia que faleceu devido ao câncer de útero há cerca de vinte anos.
Tratamento
Pouco mais de um mês após o diagnóstico, Lívia começou o tratamento, que parecia promissor e tinha previsão para durar até outubro do mesmo ano. Ela foi acompanhada no ICC (Instituto do Câncer de Coração), onde se sentiu acolhida.
“Por incrível que pareça, mesmo no meio da doença, me senti em casa, porque os profissionais são muito maravilhosos. Eu fui muito amparada”, ressalta.
No entanto, perto de concluir o tratamento inicial, um novo exame imunistoquímico revelou que o tipo de câncer era raro e geralmente acometia os pulmões, o que levou os médicos a reconsiderarem a abordagem. O oncologista informou a Ana Lívia que seria necessário um tratamento mais agressivo e que o protocolo seria alterado. Em uma semana, ela iniciou um novo ciclo de quimioterapia.
Desde o início do tratamento, Ana Lívia experimentou diversas reações adversas à quimioterapia, mas a situação piorou após a alteração do protocolo. Uma semana depois, ela começou a apresentar febres persistentes, o que a levou a ser internada.
“Quando os meus exames saíram, eu não tinha nenhuma célula de proteção no corpo. Eu tinha 88 leucócitos”, revelou. O quadro exigiu uma internação urgente, onde passou dez dias em isolamento.
“Todo mundo que entrava no quarto tinha que estar paramentado, ninguém podia encostar em mim, só com luva. Foi a pior fase tratamento, porque eu não podia pegar uma gripe. Se eu pegasse uma gripe, eu podia morrer”.
O tratamento foi marcado por desafios, mas finalmente chegou ao fim em novembro, após a equipe médica constatar que o tumor havia desaparecido. Os cuidados continuaram por mais alguns meses, assim como os exames, até que em fevereiro de 2025 a professora foi liberada para retornar, aos poucos, às salas de aula.
Lívia celebra remissão do câncer e início de uma nova vida
Arquivo pessoal
Saúde emocional
Quando Lívia recebeu o diagnóstico de câncer, sua irmã imediatamente tomou providências para apoiá-la em todos os aspectos do tratamento, incluindo o cuidado com a saúde emocional. Carla, a irmã, entrou em contato com a psicóloga da professora e, no mesmo dia em que soube do diagnóstico, Lívia já tinha uma sessão de terapia marcada, algo que se tornaria uma peça fundamental na sua recuperação.
Há cinco anos, ela faz terapia regularmente, o que se tornou ainda mais crucial durante o tratamento. “A terapia foi uma peça fundamental durante o tratamento para eu poder enfrentar. Primeiro, para eu poder aceitar. Segundo, para eu enfrentar tudo”, relatou.
Na consulta, a psicóloga recebeu a paciente com um abraço e um bolo de chocolate. “Ela me disse: ‘bota para fora tudo, suas raivas, seus anseios, seus medos’. Falei tudo. E aí a gente chegou no ‘x’ da questão, que eu só tinha uma opção: ficar boa. E aí, a partir daquele momento, eu internalizei isso, eu tinha que ficar boa”, relembra.
Apoio dos alunos e professores
Durante o tratamento, Lívia foi afastada da escola por recomendação médica, a fim de evitar que ela contraísse alguma virose que pudesse comprometer sua saúde. Além dos desafios físicos e emocionais que a doença trouxe, ela e sua família também enfrentaram dificuldades financeiras devido aos altos custos com medicamentos e locomoção, e no período o INSS ainda não havia liberado o auxílio-doença.
Foi então que a solidariedade de seus colegas de trabalho e alunos fez toda a diferença. Aline e Daniel, dois colegas de profissão, tomaram a iniciativa de organizar uma rifa para ajudar Lívia financeiramente.
“A história se espalhou para os pais, para meus alunos, para outros professores de outras sedes. E aí todo mundo se juntou para poder me ajudar. Mandavam mensagens dizendo que não queriam o prêmio caso ganhassem, que era uma forma de tá me ajudando, de tá presente comigo”, relata
Além do apoio financeiro, Ana Lívia também recebeu uma onda de carinho. “Recebi muitas orações de gente que eu nem conheço”, relembra. As mensagens de apoio eram constantes, com colegas se oferecendo para acompanhá-la aos hospitais, preparar presentes ou até mesmo enviar cartinhas.
“Foi um movimento muito bonito que meus colegas, minhas coordenadoras e meus alunos fizeram. Na véspera da minha internação, recebi uma verdadeira ‘carreta de amor’ com muitas cartinhas e presentes. Se não fosse por tudo isso, eu não teria aguentado a internação”, refletiu.
Professora recebeu diversas cartas e mensagens dos colegas de trabalho
Arquivo pessoal
O que eu mais quero agora é viver. Eu acho que a gente se apega a muitas coisas que não fazem sentido e depois de tudo eu passei a dar mais sentido para as coisas pequenas. Estou vivendo as primeiras vezes de novo, e a vida é marcada por primeiras vezes, que podem também ser as últimas vezes. Então, eu tenho tentado aproveitar tudo ao máximo.
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