Opinião – Vida de Alcoólatra: Bêbado tem que ter destino – Portais

“B?bado tem que ter destino”. Nunca me esque?o da primeira vez que ouvi essa frase. Foi o Bento, um senhor gordo que senta ao meu lado na sala de AA. Ele me assustou nos primeiros dias da minha recupera??o. Confesso que sempre achava que ele estava dando o depoimento para mim, passando um serm?o. Mas n?o. Um dia ele me falou no intervalo da reuni?o, entre uma bolacha e outra, que era para ele mesmo. “A doen?a ? triste e trai?oeira, Alice. Preciso ser firme comigo”.

Dentro de uma sala de AA, escuto muitas frases repetidamente. E gosto, assim como adoro conhecer a variedade de pessoas que frequentam a irmandade. S?o das mais diversas idades. Bento deve ter por volta de setenta anos e ? daqueles senhores que aparentam ser muito bravos, mas na verdade a cara de bravo ? apenas uma fachada. Foi ele quem me apresentou o livro “Viver S?brio” e todas as dicas que existem nele para quem come?a um tratamento do alcoolismo. O AA tem uma vasta literatura e ajuda muito.

Esse lance do destino faz todo sentido. Preciso sempre de rotas. Enquanto b?bada, vivia flanando. ?s vezes ia dar uma volta e me perdia no caminho ? procura de bebida. ? s?rio. Mesmo que n?o conscientemente. Se encontrava alguma coisa a que minha adic??o grudasse, n?o voltava mais. Assim me perdi em prazos de trabalho, me ausentei em encontros marcados. Esquecia tudo quando encontrava uma bebida. E o destino a que me refiro n?o precisa ser f?sico. Ficar em casa sem nada para fazer tamb?m sempre foi um bom espa?o para entrar na bebida. Minha irm? sempre me disse: “Rotina e destinos, Alice. Voc? precisa saber que hoje ? ter?a-feira e n?o s?bado”.
Leia mais (02/17/2025 – 10h02)